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Faz um tempão que não posto alguma coisa por aqui. Não posso dizer que estava com saudades pois, se não escrevi, li tudo que as meninas e os coisas escreveram nestes dias. Mas isso só não basta, é egoísta demais receber sem entregar. E não se trata de troca. Troca lembra retribuição, pagamento e isso acaba com aquilo que há de mais belo na relação verdadeiramente humana: a gratuidade.

Uma doação só é doação de fato se não houver retribuição, do contrário não passa de escambo (mesmo que seja em suaves prestações, num prazo interminável). É verdade que isto não é elemento natural na cultura de hoje. Gratuidade parece ter se tornado um aspecto fechado ao universo da religiosidade. Mesmo assim nem de toda a religiosidade. Muçulmanos, por exemplo, tem a retribuição como elemento presente na sua relação com o próximo e com Allá. Allá retribui a você as obras que você faz por ele e você deve retribuir a Allá pelo bem que ele te faz. A lei mosaica, do judaísmo antigo, tem visão semelhante da retribuição. Espíritas seguem linha semelhante, embora disfarçada, quando consideram que as ações humanas refletem na evolução ou não do espírito, e más ações podem redundar em carmas na vida futura.

Esse negócio de gratuidade, parece ser invenção de Jesus Cristo. Essa coisa de não buscar recompensa, amar sem motivos ou interesses, convidar para sua festa aqueles que não podem lhe dar presentes ou fazer outra festa para te convidar, amar os que não te amam, os que não te retribuirão o amor com amor. Isso é coisa de Jesus Cristo. Mas não exclusivamente dele. O jovem Sidarta, conhecido como Buda, também seguia uma linha semelhante. Fazer o bem, pelo bem que pode ser feito. Não aceitar recompensas por isto, é sua obrigação fazer o bem. Ser bom não é mérito e sim realização de sua própria natureza.

Platão e, muito mais tarde, Kant, falavam desta realização do bem por ele próprio. Aquele que encontra a verdade contempla o sumo bem e, inebriado por ele, já não consegue praticar outra coisa senão o bem. Este bem, na moral kantiana, está dentro de cada um e deve ser cumprido por uma pulsão interna. O verdadeiro bem não é movido por leis ou regras morais, ou por recompensas ou promessas de futuras retribuições. Ele move-se por si mesmo. o bem pelo bem.

Isso é ser gratuito. Embora na nossa sociedade pseudo cristã trate-se da relação com Deus como um mercado (Jesus me curou, em retribuição eu me “converti”; Jesus me dá isso que eu faço aquilo; e assim por diante) Jesus nunca quiz saber disto. Morreu na cruz por toda a humanidade, não somente pelos “convertidos”, “santos” ou os seus seguidores. Entregou-se para libertar toda a humanidade. E não pediu nada em troca. Também não esperou que ninguém pedisse a ele que fizesse isso. Viu que era bom e fez. Como ele São Francisco deixou a vida de riquezas e foi viver como mendigo nas ruas de Assis. Não queria nada em troca. Schindler se desfez de todos os seus bens para salvar milhares de judeus do extermínio. Nenhum deles poderia devolver-lhe o bem que lhes fez. Ghandi sentou-se e jejuou pela libertação do seu povo. E tantos outros pelo mundo a fora viveram e vivem a gratuidade.

Penso que esse seja um dos segredos da felicidade. Viver gratuitamente. Não buscar recompensas. Contentar-se com o prazer de fazer o bem, de fazer alguém melhor, de tronar o mundo melhor. Ser bom, independente das conseqüências que virão (acredite nem sempre quem planta o bem colhe o bem), elas sempre serão transformadas em belas oportunidades para se melhorar. Assim se pode gozar o melhor da vida, ela mesma.

1 comentários:

  1. Duas palavras: Muito e show. HASUAHUSHAUSAHS. Muito bom mesmo michel (8

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