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Malcolm McDowell, Laranja Mecânica.

Domingo, talvez, tenha sido um dos dias mais felizes da humanidade. Não é  pelo fato do Flamengo ter sido campeão antecipado do Carioca, e, muito menos, pelo fato do Vitória eliminar o Bahia nas semi-finais do baianão (algo que já é tão recorrente). Esse momento foi marcado, com um marcador tinteiro de cor verde-cana, pelo dia em que os EUA escolheu para por um fim na Al Qaeda (A Base) matando um dos seus líderes Usama Bin Laden (Osama). A mensagem dirigida aos povos de todo o mundo pelo, o então chefe de Estado da Casa Branca, Barack Obama, foi motivo de celebração, júbilo, pelo que se acredita ter posto uma estaca nessa organização terrorista. "Osama is death", "Osama está queimando no inferno", foram entre as várias mensagens que, ensandecidos de tamanho fulgor de felicidade, os estadunidenses festejaram nas megalópoles e nos principais centros norte-americano. Pessoas, via veículo de comunicação web, postaram milhares de frases complacentes com a felicidade estadunidense, mostrando que  juntos festejam pela promoção da paz mundial.

A primeira reação que tive quando assim cheguei em casa, pelo acaso da rotina de ao pisar os pés em meu lar ligar todos os aparelhos, foi ficar estupefato com aquela zuadinha (vinheta), que já anuncia: vem tragédia por aí... Em poucos instantes, surge a voz de Obama falando de uma operação (?) e sobre alguma coisa que não identifiquei, pois ainda não sou poliglota. Corri, fui até a frente da tv e fiquei assustado. Foi sinistro a cena do então presidente, mantendo uma postura sensata, dando uma declaração concisa que, sem dúvidas, iria mexer com o brio de milhões de pessoas no mundo todo. As palavras foram mais ou menos essas: "Acabo de informar-vos que na noite de domingo, dia 01 de maio de 2011, em uma operação organizada pelo Serviço de Inteligência Norte-Americana, Osama Bin Laden está morto". Aí eu falei comigo mesmo: fudeu! Esse "fudeu" para historiadores soa como um pão com manteiga e café, para quem é viciado nessa refeição.

A primeira situação a ser pensada seria a REPRESÁLIA... Eu nem cogito isso até porque é o mais óbvio em situações como essas... Aqueles que se sentem lesados, em quaisquer ocasiões, desejam ser ressarcidos por suas perdas. Não sendo pessimista, mas devemos esperar por ataques! Que me perdoe os historiadores, não estou sendo futurólogo (base de crítica de todos os estudios@s que lidam com a Clio!); estou sendo sensível a todos esses acontecimentos já que sou sujeito da conjunta experiência cotidiana presente. 

Tendo acompanhado todos os possíveis meios ao meu alcance, até o momento que não enche meu saco, tenho visto cientistas sociais, advogados (?), cientistas políticos, historiadores, geógrafos geopolíticos, literatos, jornalistas, ou seja, tod@s dando sua contribuição acerca do acontecido - traçando um paralelo sobre a história da Al Qaeda, o regime Talibã, a política guerrista de Bush e a postura de conservação dessa mesma política por Osama; a biografia de Osama - tentando fazer uma leitura psico-social do terrorrista (aquela coisa que se resume em outras palavras: como é que um homem rico resolve filiar-se a grupos extremistas no Oriente?), a biografia do pai (daqui a pouco vão especular que o Osama sofreu de bullying e que pelo fato de  ser o 17º filho não foi o mais "querido"); o comportamento do mundo (?) em relação ao fato, e os futurólogos fazendo uma leitura de que se (?) isso contribuirá para acirrada disputa mundial entre o mundo Islã (referido, e englobado por todos como Oriente) e o mundo ocidental-democrático. Me decepcionei com alguns posicionamentos (agora eu entendi o que é 5 anos no curso de História, você fica com mal costume em relação a tudo!). Vale ressaltar que uma cobertura interessantíssima, não estou querendo dizer imparcial, que pude curtir, foi a do Jornal da Cultura, TV Cultura/TVE às 21:15, que convidou um historiador (não me recordo o nome) e um advogado (que pelo que eu entendi é também deputado federal), onde inflamaram um debate bastante salutar sobre o acontecido. Já vou antecipando, para a frustração daqueles que adoram ouvir o posicionamento de historiadores sobre os caminhamentos da sociedade: pouco se ouvirá a manifestação de sequer um ser da História. São questões metodológicas, também discutíveis, mas não vem ao caso para não tornar ainda mais prolixo meu texto.

Falei sobre REPRESÁLIA, certo. O mais preocupante é o que se tornou o mais óbvio: o desrespeito às fronteiras, o "messianismo", o sentimento "renascido" de um "povo" dotado de um "sentimento" de serem os escolhidos para "trazer a paz" ao mundo em tormentas e tempestades constantes, etc. etc. etc. Os EUA mostrou, mais uma vez, que o mundo possui um senhor que dita as regras, que estabelece as regras, que impõe as regras, que se sente capaz de violar e acobertar as mesmas regras criadas por si mesmo, que age com forças especiais e controlam todas as atividades intraplanetárias, quiçá extraterrestre, que estabelece a justiça de sua maneira e com os recursos que melhor lhe convém. 

Há uma gama de posições contrárias, a favor, meio-termo, abstenções, sobre as estratégias e a conduta estadunidense nesse domingo de maio de 2011. Aí vai um recado: antes de uma boa ação existem enésimas variáveis de interesses, por trás, camuflados. 

Estou pronto para o debate.

Deixo para vocês as palavras de Eduardo Galeano sobre o século XXI, em entrevista ao programa Sangue Latino:

Dormindo nos viu. Helena sonhou que fazíamos fila, uma longa fila em um aeroporto, igual a qualquer outro aeroporto, e cada passageiro levava embaixo do braço o travesseiro onde tinha dormido na noite anterior. E os travesseiros iam passando, um depois do outro, por uma máquina que lia os sonhos nos travesseiros. Era uma máquina detectora de sonhos perigosos para a ordem pública. O século XX, que nasceu anunciando paz e justiça, morreu banhado em sangue e deixou um mundo muito mais injusto do que o que tinha encontrado. O século XXI, que também nasceu anunciando paz e justiça, está seguindo os passos do século anterior. Lá na minha infância, eu estava conhecido de que tudo que na Terra se perdia, ia parar na Lua. No entanto, os astronautas não encontraram na Lua sonhos perigosos, nem promessas traídas, nem esperanças estilhaçadas. Se não estão na Lua, onde estão? Será que na Terra não se perderam? Será que na Terra se esconderam? E estão esperando, esperando nós?



De lambuja, convido tod@s a lerem esse post publicado pelo camarada Paulo Moraes na Revista Transa (estudantes da Uefs)


Jorge Raimundo.
Maio de 2011.

4 comentários:

  1. Bom texto!!!! Só pra lhe suar um pouquinho!!! Vimos o Osama bin laden morrer mas ñ vimos o vitoria ser campeão brasileiro!!!!!

  1. Errata: Na linha em que se lê "[...]a política guerrista de Bush e a postura de conservação dessa mesma política por Osama", deve-se ler "a política guerrista de Bush e a postura de conservação dessa mesma política por Obama".
    Grato pela compreensão.

  1. Grande Jorge,excelente texto.A ação militar dos Estados Unidos é a prova cabal de que Soberania só existe para os poderosos,que é o poder de uma ideologia sobre outras ideologias consideradas menores ou provocativas ou ainda "terroristas",enquanto para quem detém a soberania,é um ato de "defesa" da humanidade.Parabéns.

  1. E olha que vcs nem levaram em conta a explicação da CIA para não envolverem a Inteligência paquistã na operação: "para que a operação não fosse atrapalhada por eles" Além de declarações sobre uma suposta incompetência do Paquistão no cuidado do caso e acusações de possível proteção à Osama. Tipo assim, somos americanos, não precisamos de ajuda, os outros só atrapalham, resolvemos tudo sozinhos, yes we can.

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